quarta-feira, 23 de maio de 2012

Soninha Francine e o metrô “sussa”


Soninha Francine e o metrô “sussa”



Autor:  Daniel Gorte-Dalmoro
Soninha Francine, pré-candidata do PPS à prefeitura de São Paulo, jura que foi ironia o que escreveu no twitter: "Metrô caótico, é? Não fosse pela TV e o Twitter, nem saberia. Peguei linha verde e amarela sussa". Sendo uma figura pública e conhecendo das suas posições políticas, não consegui encontrar a ironia na frase – e não creio na sua incapacidade intelectual para ironias, antes na sua inabilidade política para tentar salvar o chefe. O comentário foi uma clara tentativa tornar o acidente na linha 3 como um caso isolado, resguardando o resto do maravilhoso sistema de metrô da cidade.

Sua frase serviu de gancho para lembrar a decepção – não só minha – que a ex-apresentadora e agora política profissional foi para uma geração – essa que hoje está entre os vinte e cinco e trinta anos, mais ou menos. Com bandeiras progressistas na área de direitos humanos, lembro de muitos amigos terem votado nela para deputada federal, em 2006, quando era ainda filiada ao PT. Depois trocou de partido, foi para o PPS, partido reboque de segunda mão (em vias de se tornar de primeira, com o naufrágio do DEM) do PSDB. Em 2010 apoiou Alckmin e participou da campanha de José Serra, dois dos expoentes mais fortes do conservadorismo reacionário em direitos humanos. Soninha definitivamente se transformava numa carcaça do que um dia havia sido.

Surpreende? Não. Decepciona, isso, sim.
Soninha e Zé Serra, a cruzada pela moralidade


Não surpreende porque Soninha é antes cria da indústria cultural. Oriunda da MTV, onde a linguagem da emissora – na época, década de 1990 – dava aos apresentadores a impressão de donos de uma personalidade independente e não mero representantes de um figurino para a ocasião, teve coragem de admitir que fumava maconha e de ter feito um aborto. Se admitir que usava maconha custou-lhe o emprego na emissora controlada pelo PSDB, ter assumido o aborto, para sua sorte, não lhe custou a estima do cruzadista da moralidade, José Serra – porque político, como comunicador, é uma espécie bem maleável. Contudo, ao aceitar participar da campanha do candidato tucano, parece que, no fundo, aceitou o pensamento de todo bom moralista: que os outros não façam aquilo que julgo errado, por mais que eu já tenha feito.

Sentimento semelhante de deslumbramento com um candidato parece ter acontecido com Marina Silva, na eleição para a presidência, em 2010. As diferenças, contudo, são enormes, e não fosse a própria Soninha jogar fora seu histórico, soaria ofensivo a comparação: Marina Silva é o Alckmin de saia, aversa aos avanços dos direitos civis, só que travestido num discurso up to date de preservação do meio-ambiente. Discurso que não é vago, visto sua história de vida, mas que não me surpreenderia ela ir para o outro oposto, caso fosse politicamente necessário – vide seu silêncio sepulcral durante todo o início da discussão do novo código florestal, quando ela estava mais preocupada em disputar o poder interno do PV.

Não tenho certeza disso que vou falar agora: porém tenho a impressão de que o Tiririca é menos nocivo à política nacional – encarando aqui além de seus aspectos pragmáticos, no que há de simbólico –, do que a Soninha. Ou talvez, sendo mais sensato, o palhaço Tiririca talvez seja só uma versão sem disfarces da comunicadora Soninha Francine.


São Paulo, 18 de maio de 2012.



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